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Oferta de crédito pelas grandes varejistas pode atingir R$ 83 bi em 2026

Receita com produtos ligados ao setor financeiro entre empresas do varejo pode atingir R$ 24 bilhões no ano que vem

A integração no varejo se tornou parte fundamental do sucesso de uma varejista. Seja pela união do físico com o digital, da experiência do cliente e bons preços ou integração de serviços ao processo de compra, atuar no varejo é equilibrar pratos. E um deles envolve dar ao consumidor as condições de crédito para que ele possa realizar compras.

Nos últimos cinco anos o conceito de embedded finance (finanças embutidas) ganhou força entre as maiores marcas do comércio, com um crescimento médio de 12,2% ao ano, resultado superior ao incremento do crédito que, segundo o Banco Central, cresceu 8,9% ao ano desde 2021.

Segundo estimativa da Deloitte, empresa de consultoria, auditoria e gestão, em 2026, os serviços financeiros embutidos devem gerar receita de R$ 24 bilhões com a oferta de R$ 83 bilhões em crédito, com foco especial no atendimento das classes C e D. “Valor que hoje os clientes buscam em instituições financeiras tradicionais ou não é explorado por falta de oferta compatível dentro do mercado”, informa o relatório assinado por Sérgio Biagini, sócio-líder da indústria de Serviços Financeiros da Deloitte.

Apesar de ganhar tração nos últimos anos, o varejo utilizar ferramentas de acesso ao crédito já existe, segundo a FGV, desde os anos 1950, quando redes como Mappin, Garbo e Colombo passaram a usar carnê para garantir crédito aos clientes. A escala da forma de pagamento, no entanto, se deu com a entrada da Casas Bahia neste ramo, com a oferta de crédito para compra de eletrodomésticos para a população de baixa renda.

Atualmente, das principais empresas do varejo, as dez maiores são, conforme o ranking 2024 SBVC-Cielo, Carrefour, Assaí, Magazine Luiza, Grupo Casas Bahia, RD Saúde (Raia, Drogasil), Grupo Boticário, Grupo Mateus, GPA Alimentar, Natura e Americanas, e todas elas oferecem algum tipo de serviço financeiro.

Algumas têm cartões de crédito, outras linhas de empréstimo e outras até viraram fintech para oferecer uma gama maior de serviços. E até mesmo quem já nasceu no ambiente digital também se organizou para garantir seu pedaço do bolo.

O Mercado Livre, por exemplo, oferece linhas de crédito por meio do Mercado Pago, o banco digital da companhia. Eles também oferecem carteira digital, programa de assinaturas, seguros, além de uma plataforma de investimentos. No ano fiscal de 2024, a empresa registrou US$ 5,3 bilhões (+47%) em recebíveis de cartões de crédito contra US$ 3,6 bilhões em 2023. Somente da operação própria de fintech da empresa, a carteira de crédito atingiu US$ 6,6 bilhões no quarto trimestre, um aumento de 74% em relação ao ano anterior. “Os cartões de crédito foram a maior contribuição para o crescimento”, afirmou a companhia em seu relatório financeiro.

A Fintech da Magalu, o MagaluBank, atua quase como um banco completo, com diversas linhas de crédito diferentes para consórcio, empréstimo, venda de maquininhas, soluções para negócios, programas de pontos, que estão entre os 16 produtos financeiros disponibilizados. É exemplo no segmento. Somente em dezembro de 2024, a companhia tinha R$ 5,7 bilhões em contas a receber de cartões de crédito. O TPV (volume de pagamentos) de cartão de crédito, no 4º trimestre de 2024, foi de R$16,3 bilhões (+4,8%). As vendas dentro do Magalu para clientes do Cartão Luiza e do Cartão Magalu, atingiram R$ 2,4 bilhões no período (+4,9%), e R$ 8 bilhões no ano fiscal completo de 2024.

Em agosto do ano passado, a varejista anunciou o lançamento de mais um produto financeiro para seu portfólio: o carnê digital MagaluPay – alternativa para pagamento parcelado de compras, totalmente integrado ao aplicativo da companhia. Inicialmente, 2,4 milhões de clientes tinham crédito pré-aprovado e a função liberada no aplicativo.

“O nosso carnê digital MagaluPay foi desenvolvido para elevar o poder de compra dos nossos clientes e potencializar o crescimento do nosso e-commerce”, afirmou Carlos Mauad, CEO do MagaluBank, durante divulgação de resultados do primeiro trimestre de 2025.

Vantagens

Mas qual a vantagem de ter os produtos financeiros dentro de casa? Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, explica que, ao oferecer a opção de pagamento por cartão, todo varejista tem que pagar a taxa MDR (Merchant Discount Rate), que é cobrada entre 1% a 5% do valor da transação. Mas o jogo não é igual para todos.

Para os pequenos varejistas, a taxa geralmente fica entre 3% e 5%. “Eles têm menor poder de barganha e custos mais altos de aquisição de equipamentos, como as maquininhas”, afirmou. Já para o grande varejista, a história é outra. “As taxas geralmente ficam abaixo dos 2% e eles podem criar programas de white label.”

Aí que está o pulo do gato. Os programas white label, ou seja, cartões que não têm as bandeiras tradicionais, se tornaram a fórmula para muitos varejistas de grande porte encontrarem e garantirem controle da oferta, escolha de perfis e administração do dinheiro a se emprestar – inclusive assumindo os riscos de inadimplência. Com isso em mente, passaram a oferecer, além do cartão de crédito próprio, linhas de crédito e outros serviços financeiros com o nome da sua marca e condições especiais.

Felisoni afirma ainda que, pelo fato de a varejista ter escala maior, ela é capaz de absorver custos fixos relacionados à infraestrutura, além de possuir maior acesso a capital, reduzindo evidentemente a necessidade de antecipação dos recebíveis, prática comum nos pequenos negócios.

Para o futuro algumas mudanças promovidas pelo Banco Central tendem a fortalecer este mercado. O Banco Central planeja introduzir em setembro o Pix parcelado, conforme anunciado recentemente. A modalidade permitirá, para o pagador, contrair crédito para permitir o parcelamento de uma transação, com acréscimo. Já o recebedor terá acesso instantâneo a todo o valor da transação.

Para Felisoni, a modalidade traz mudanças significativas na dinâmica desse mercado. “Reduz os custos de transação, com taxas previstas menores em função da competição”, afirmou. “A nova dinâmica deve obrigar que as operações com cartão aconteçam em condições mais favoráveis, principalmente para o pequeno varejista.”

Fintechzação

Para empresas como Magalu e Mercado Pago, que têm a própria fintech, o patamar é outro, assim como a regulamentação para atuar. Os critérios do BC para virar fintech atualmente se dividem em duas categorias. A primeira, de Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), permite a atuação de operações de crédito entre pessoas e atua apenas como intermediária dos contratos realizados entre os credores e os tomadores de crédito. Nesse modelo, os recursos são de terceiros que apenas utilizam a infraestrutura proporcionada pela SEP para conectar credor e tomador. Nesse tipo de operação, a exposição de um credor, por SEP, deve ser de no máximo R$ 15 mil.

No segundo caso, da categoria de Sociedade de Crédito Direto (SCD), o modelo de negócio caracteriza-se pela realização de operações de crédito, por meio de plataforma eletrônica, com recursos próprios. Ou seja, esse tipo de instituição não pode fazer captação de recursos do público. Nesse sistema, os potenciais clientes devem ser selecionados com base em critérios consistentes, verificáveis e transparentes, contemplando aspectos relevantes para avaliação do risco de crédito. Além de realizar operações de crédito, é possível prestar serviços de análise de crédito para terceiros, cobrança de crédito de terceiros, distribuição de seguro relacionado com as operações por ela concedidas por meio de plataforma eletrônica e emissão de moeda eletrônica.

Giancarllo Melito, sócio da Barcellos Tucunduva Advogados e especialista na área de meios de pagamento, afirma que, atualmente, está muito mais fácil entrar no mercado financeiro. “Em alguns casos não é necessária a autorização do Banco Central (BC)”, afirmou. Segundo ele, a evolução da sociedade e a digitalização apresentaram ao mercado oportunidades que os bancos não ofereciam, principalmente para segmentos específicos, como o varejo. “Isso abriu oportunidades para novos entrantes oferecerem produtos mais ágeis e personalizados”.

A linha financeira é interessante num primeiro momento pela lucratividade. Sem a intermediação de uma instituição financeira tradicional no processo – como um banco -, a lucratividade daquele produto financeiro é toda da empresa, além de garantir margens maiores para trabalhar os preços dos produtos, especialmente no caso do varejo.

Além disso, contribui com a recolocação dos produtos, o que significa oferecer um serviço financeiro mais personalizado. “Exemplo disso são os cartões de crédito dos supermercados, que ajudam a dar poder de compra para diversas categorias de clientes e a aumentar o ticket médio das compras”, disse Melito. “Além disso, o custo de aquisição de clientes é menor, porque essas empresas já têm uma grande base de clientes.”